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que eram encontradas há décadas no Brasil e que es-     pecial da administração.”
        tão se repetindo agora.  “É um retrocesso muito grande.      O quadro restrito de pessoal também é outro pro-
        Eu não atribuo à cadeia como um todo, nem especifi-     blema enfrentado pelos auditores-fiscais do trabalho
        camente à produção da cana-de-açúcar ou da cebola,      rural. Muitos se aposentaram e há muito tempo não há
        mas determinados segmentos de empregadores dessas       concurso para reposição. Há ainda um número consi-
        culturas têm insistido em um caminho de descumpri-      derável de auditores que já estão em abono de perma-
        mento importantíssimo da legislação trabalhista e das   nência, ou seja, já cumpriram todos os requisitos para
        normas de segurança prescritas.”                        a aposentadoria, mas ainda preferem continuar ativos,
           Destaca ainda que o AFT Antonio Carlos Avan-         mas a qualquer momento podem decidir se aposentar.
        cini vem promovendo também, eventos com                    O quadro, que já foi muito bom, com auditores de
        produtores de cebola, batata e café na região.          décadas de trabalho de experiência na fiscalização ru-
        Para o AFT Fernando da Silva, os episódios se repetem   ral, segundo Fernando, está tão reduzido, que dificulta
        não por falta de informação ou de uma Norma Re-         atender a uma recente normativa que determina que a
        gulamentadora efetiva, mas por falta de cumprimen-      fiscalização rural tem que ser realizada em duplas. “Te-
        to no que está prescrito, e do desinteresse de certos   mos gerências com um chefe e um auditor fiscal, como
        produtores que minimizam investimentos para maxi-       é que vai fazer uma dupla?” questiona Fernando. E no-
        mizar lucros.                                           vamente destaca outro paradoxo, pois fiscalização em
           “A N-31 tem um nível de abrangência para as ativida-  dupla é um dos itens do protocolo de segurança para
        des rurais que, se cumprida, ela oferece uma condição   os AFTs.
        boa para segurança, para a saúde e preceitos básicos de    Apesar de toda dificuldade, Fernando acha impor-
        conforto e higiene no local de trabalho, como um local   tante não esmorecer, e numa alusão ao nome de uma
        adequado para refeição, um banheiro.  O que precisa     antiga banda de rock, compara os auditores fiscais do
        ser feito, a norma prescreve de uma forma que eu julgo   trabalho rural a verdadeiros “Heróis da resistência”. “Ape-
        boa, mas o que impacta aí não é uma lacuna normativa,   sar de tudo, a gente resiste, pega a bandeirinha e tenta
        mas sim uma situação de descumprimento do que está      levar em frente para manter esse trabalho vivo. As fis-
        prescrito”.                                             calizações estão em número cada vez menor e quanto
                                                                menor a fiscalização, mais a gente vai dar oportunidade
        Desafios                                                e brecha para que esse nível de desorganização, de des-
                                                                cumprimento da legislação e falta de proteção ao traba-
           Diante deste cenário onde  sobram irregularidades    lhador avance”, finaliza.
        trabalhistas, realizar fiscalizações rurais tornou-se um
        desafio para os auditores-fiscais.  Fernando enumera as
        dificuldades da categoria: falta verba para diárias com-
        patíveis, faltam veículos adequados com seguro, moto-
        ristas e auditores-fiscais para fiscalizar.  “É um paradoxo   Foto: Banco de Imagem
        a gente trabalhar em prol da defesa dos direitos dos
        trabalhadores e por outro lado, se deslocar para realizar
        trabalho de fiscalização com uma diária que sequer co-
        bre as despesas.”
           As operações nas culturas de cana-de-açúcar na re-
        gião de Araçatuba e cebola em Divinolândia, servem de
        exemplo. Foi uma semana de trabalho e os valores das
        diárias não cobriam sequer a hospedagem e tinha ain-
        da alimentação e os auditores tendo que dirigir viaturas
        que sequer têm seguro. “Esse valor defasado de diárias
        acaba desestimulando a participação nas ações de fis-
        calização rural principalmente quando implicam em
        pernoite”, relata.
           Um outro desafio, segundo o auditor, é ter veículos
        em boas condições, com seguro e combustível à dis-
        posição para chegar até o campo. “É uma fiscalização
        um pouco diferente porque demanda uma estrutura
        prévia quer seja em diária ou em veículos. As viaturas já
        não têm mais seguro, não há motorista à disposição, na
        maioria dos casos é o auditor-fiscal quem dirige. É uma
        série de desafios que estão requerendo uma atenção es-  Muitas irregularidades na cultura de cana-de-açúcar
                                                                                               www.sinpait.org.br   09
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