Page 9 - O Elo - Setembro 2022
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empregados e empregadores, foram realizadas melhorias   cem nosso trabalho, mas infelizmente não é a totalidade.
        efetivas nas condições de trabalho nos canteiros de obras.   A truculência de alguns e a falta de conhecimento de que
        “Com  a  participação  tripartite  (governo,  empregados  e   nosso trabalho tem o caráter muito mais preventivo do
        empregadores), a NR 18 foi melhorada com a introdução   que punitivo, é percebido em várias ações fiscais onde o
        de itens como o de elevadores de cremalheira, andaimes   nosso auditor é constrangido.”
        motorizados, plataformas elevatórias móveis de trabalho,   O quadro reduzido de AFTs em todo o Estado também
        gruas entre tantos outros. A discussão dos itens possibi-  dificulta o trabalho no setor da construção civil. Hoje são
        litou alternativas a um segmento laboral que tanto gera   três AFTs no município de São Paulo, que além de ou-
        emprego, mas também em muitos casos condições ina-      tras atividades em outros projetos e demandas, também
        dequadas de trabalho.”, observa o auditor.              executam a fiscalização das inúmeras obras residenciais
                                                                e comerciais em andamento, além da construção pesada
        Dá para prevenir                                        como as Linhas Laranja e a ampliação da Verde do Metrô e
                                                                de saneamento básico.  “Apesar da qualidade dos colegas,
           A realidade nos canteiros de obra poderia ser outra se   o efetivo vem sendo reduzido pela falta de concursos pú-
        existem práticas de prevenção de acidentes. Para Antonio   blicos para a devida reposição”, lamenta.
        Nascimento, o que falta é gestão de SST que só é inserida   Para Antonio, é fundamental a reposição do quadro de
        quando o empregador tem cultura de segurança envolvi-   auditores fiscais no estado de São Paulo, e em especial na
        da no processo produtivo. “Hoje se fala muito em ESG (si-  área de segurança e saúde do trabalhador. “Estamos per-
        gla para Environmental, Social and Governance, traduzida   dendo profissionais com muito conhecimento devido a
        como Ambiental, Social e Governança), mas a governança   aposentadoria e outros motivos e esse legado não vai ser
        só vem se você mudar a mentalidade dos gestores das     passado para os mais jovens. Melhoramos as ferramentas
        construtoras”, pondera.                                 tecnológicas no Ministério do Trabalho e Previdência nos
           O auditor adverte que acidentes por quedas por dife-  últimos anos, contudo a melhor ferramenta ainda é o au-
        rença de nível, choque elétrico, soterramento e desaba-  ditor fiscal e sem este, não haverá melhoria efetiva nos am-
        mento, entre outros aspectos, podem ser evitados se hou-  bientes de trabalho”.
        ver o interesse de implementar a segurança no processo
        ou na atividade e não com o foco na segurança do traba-
        lhador fornecendo apenas EPI e o capacitando para usá-lo.
             “Falta planejar mais, antecipar os riscos na fase de proje-
        to e não querer ao longo do processo produtivo as soluções
        que além de na sua maioria das vezes não serem eficazes,   Fotos: Arquivo Pessoal
        tornam-se mais caras à construtora ou à organização.
           Antonio defende que os engenheiros e técnicos de se-
        gurança do trabalho deveriam participar na fase de proje-
        to e não serem inseridos apenas quando o processo está
        ocorrendo e muito pouco pode ser melhorado.
           Grande parte da sociedade acredita que basta fornecer
        o EPI e o problema está sanado. O auditor esclarece: “EPI
        é uma parte pequena da solução, pois apesar da sua im-
        portância, o que se percebe é a falta de planejamento do
        canteiro de obras, dos projetos executivos estarem atrela-
        dos a proteções coletivas eficazes, de capacitações dos tra-  Processo arcaico e inseguro nas fundações, com o uso de
        balhadores, mas também dos seus gestores entre outros   tubulação a céu aberto.
        aspectos”. Segundo ele, “há boas obras em todo o nosso
        país em empresas de pequeno, médio e grande porte, ou
        seja, não é o porte, mas sim vontade de mudar a cultura
        organizacional”.
           Outro problema no setor da construção civil apontado
        pelo auditor, é a informalidade, principalmente nas obras
        pequenas e nas de curto prazo. “Às vezes, em uma obra
        com 20 trabalhadores há vários pequenos empregadores
        sem uma gestão de SST da construtora ou organização
        principal e um controle efetivo de vínculo empregatício, da
        jornada, dos recolhimentos trabalhistas e previdenciários,
        entre outros. É nestas obras que muitas vezes encontra-
        mos as piores situações degradantes de segurança, saúde,
        alimentação e da falta do mínimo de dignidade para com
        os trabalhadores”.
           Lidar com empregadores também não é tarefa das
        mais fáceis para os AFTs.  “Temos gestores que reconhe-  Edificação sem as devidas proteções periféricas com grande
                                                                risco de acidente grave e fatal.
                                                                                               www.sinpait.org.br   09
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