Page 7 - O Elo - Maio 2022
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para poder explorar em condições análoga à de escra-
        vo. Esse panorama é agravado pelas redes de tráfico de
        seres humanos, trazidos de outros países e de outros Es-  Foto: Acervo Pessoal
        tados menos desenvolvidos da federação, que estão em
        situações de extrema vulnerabilidade social na origem,
        para serem explorados no Estado de São Paulo em con-
        dição análoga a de escravo.

        Essas empresas se aproveitam da situação de vulne-
        rabilidade desses trabalhadores?
           Um traço marcante do tráfico de pessoas e do tra-
        balho análogo ao de escravo hoje em dia é a situação
        de vulnerabilidade social da vítima. Existem outras
        fronteiras que estão sendo investigadas pela Inspeção
        do Trabalho, que é por exemplo, o trabalho doméstico
        de brasileiros e de imigrantes, que antes não eram de-
        vidamente enfrentadas pelo poder público e que hoje
        o são. A imprensa vem cobrindo frequentemente casos
        de resgates de trabalhadores nacionais e imigrantes no
        trabalho doméstico. No caso de São Paulo, temos mui-
        tos trabalhadores e trabalhadoras vindos das Filipinas,   Luis Alexandre: foco no trabalho degradante nas metrópoles.
        explorados em condição análoga a de escravo de uma
        maneira muito maior do que se via antigamente. Mas
        é uma questão de para onde você focaliza os esforços    não é uma escolha inteligente por parte do poder públi-
        do poder público. O problema já existia antes, mas não   co. Nós temos que concentrar nossos esforços nas em-
        existia a luz que é lançada pela Inspeção do Trabalho   presas que têm capacidade e poder para tomar decisões
        com relação ao problema. É como o trabalho escravo      corretas, para irradiar o trabalho decente a toda a cadeia
        nos grandes centros urbanos. A Superintendência de      produtiva. Nós já temos ferramentas de fiscalização, de
        São Paulo é considerada uma das protagonistas no        intervenção, de inteligência fiscal para exigir dessas em-
        combate ao trabalho escravo urbano, principalmente      presas não só aquelas iniciativas de propaganda. Não é
        no final da década de 2000, mas o problema já existia,   só fazer uma propaganda bonita na televisão, de que
        era só uma questão de colocar o foco nele. E se o pro-  é uma empresa inclusiva, que fomenta a igualdade de
        grama de combate ao trabalho escravo da SRTE/SP, teve   gênero, não permite a existência do trabalho análogo
        alguma virtude, essa foi a de colocar uma equipe de au-  ao escravo e do trabalho infantil, que não tolera o as-
        ditores dedicada a lançar luz ao problema dentro das    sédio moral, que integra a pessoa com deficiência. Nós
        cidades, dentro do ambiente da metrópole. Não que o     precisamos exigir, principalmente das grandes empre-
        problema fosse novo, ele era antigo, só que a solução foi   sas, medidas efetivas para garantir a inclusão igualitária
        inovadora.                                              de trabalhadores vulneráveis, imigrantes, das mulheres,
                                                                das pessoas pretas, do trabalhador LGTBQi+, de pessoas
        Após quase 27 anos de carreira, que avaliação o sr. faz   com deficiência no mercado de trabalho, em condições
        das conquistas e do que ainda precisa ser feito para    de igualdade de oportunidades. A Auditoria Fiscal do
        erradicação tanto das fraudes quando do trabalho        Trabalho possui ferramentas para exigir essas medidas,
        análogo à escravidão no Brasil?                         e vai ser nossa luta constante nas próximas décadas.
           Os desafios são muitos, imensos, inumeráveis, então
        eu tenho que escolher um: nós precisamos endereçar      A auditoria tem ferramentas de intervenção, de inte-
        a responsabilidade às grandes corporações em mul-       ligência fiscal, a maior carência então é mão de obra?
        tiplicar o trabalho digno, porque elas têm o poder de      Falta mão de obra e falta foco. Muitas vezes a gen-
        influência sobre suas cadeias produtivas. As grandes    te ainda vê o trabalho da auditoria sendo dirigido para
        empresas fazem muito pouco, infelizmente. Elas gastam   empresas de menor expressão, de menor poder econô-
        muita propaganda de responsabilidade social corporati-  mico. Não que não sejam importantes as ações fiscais
        va, mas fazem muito pouco para efetivar a multiplicação   reativas, motivadas por justas denúncias dos trabalha-
        do trabalho decente, para irradiar o seu poder de influ-  dores, mas o trabalho planejado deveria ser privilegia-
        ência, o seu poder econômico, o seu poder de grandes    do, concentrando esforços da Inspeção do Trabalho nas
        compradores, para garantir trabalho digno por toda a    empresas que são estratégicas, nas fiscalizações estra-
        sua cadeia de fornecedores, compradores e parceiros de   tégicas, que resultam num poder de multiplicação da
        negócios. O foco na empresa pequena, sem capital, na    auditoria muito maior. Mas, claro, a questão da exigui-
        PJ que não tem capacidade econômica para fazer frente   dade da mão de obra de Auditores-Fiscais do Trabalho é
        à precarização, à concorrência no mercado de trabalho,   premente, e é o problema mais grave que enfrentamos.

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