Page 16 - O Elo - Março de 2025
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Uberização


                 Duração do trabalho e remuneração são


                           as maiores demandas do MPT




           O Supremo Tribunal Federal se prepara para julgar,   que o próprio TST encaminhou para a Suprema Corte
        com repercussão geral, um dos temas mais espinhosos    apresenta argumentos que favorecem o reconhecimento
        para a Justiça do Trabalho neste século: o reconhecimento   do vínculo.
        de vínculo empregatício entre motorista de aplicativo     “Diferentemente dos táxis, em que o vínculo é
        de prestação de serviços de transporte e a empresa     estabelecido com os passageiros, o vínculo tanto dos
        administradora de plataforma digital. O caso, envolvendo   passageiros, como dos motoristas credenciados, é com
        a Uber (que por si só já gerou o neologismo uberização)   a Uber. Os motoristas ‘logados’ atendem aos chamados

        deve afetar uma parcela significativa da massa de trabalho   endereçados pelos passageiros à Uber”, escreveu o
        brasileira, que atua não apenas na empresa, mas também   ministro  Alexandre  de Souza  Agra Belmonte,  do  TST,
        em  serviços  de  entrega  de  refeições  e  qualquer  outra   na decisão.  “Nessa toada, o argumento empresarial
        plataforma que se valha deste modelo de intermediação   contestatório é desimportante, porque para a Uber
        entre prestadores de serviço. Apesar de o caso no STF   pouco importa que o motorista tenha ‘autonomia’ para
        ser encabeçado diretamente pela Procuradoria-Geral     estar logado e deslogado, ou recusar corridas.”
        da República de Paulo Gonet, que ainda não deu seu        Nessas águas, o MPT tenta desenvolver sua tese de
        parecer, o Ministério Público do  Trabalho já conhece   defesa do vínculo empregatício. A Procuradoria do
        bem a questão: até maio de 2023, eram mais de 17 mil   Trabalho de Campinas (PRT-15) chegou a desenvolver
        processos do tipo na Justiça do Trabalho.              um site voltado à conscientização de trabalhadores
                                                               de plataformas. Nele, os procuradores defendem o
                                                               entendimento de que “quando o controle, a gestão, a
                                                               organização, a supervisão do trabalho realizado e o lucro
           * Um processo pode tratar de um ou mais assuntos.
                                                               não  pertencem  ao trabalhador,  ele  é  um  subordinado
                                                               e  como  tal  é  empregado  e  tem  direitos  do  trabalho
                                                               como descanso remunerado, férias, aviso prévio,
                                                               jornadas não exaustivas, remuneração mínima, 13º
                                                               salário, afastamentos em caso de doença ou acidentes e
                                                               aposentadoria”.

              Fonte MP Um Retrato/CNMP                                 Fonte: Transparência/MPT














           Ainda não há consenso sobre o tema: em dezembro
        de 2024, o  TRT-2 (Grande São Paulo e litoral paulista)
        determinou que a iFood reconheça o vínculo com os
        entregadores que usam a sua plataforma.                   O Ministério Público do  Trabalho é um dos ramos
           Em dezembro, a 14ª Turma do tribunal aplicou multa   do Ministério Público da União. Está estruturado
        que pode chegar a R$ 10 milhões e mandou a empresa     administrativamente em 24 procuradorias regionais,
        registrar todos os seus entregadores. A decisão, que   que espelham a estrutura dos  Tribunais Regionais
        contraria entendimento do STF, deve subir ao TST, onde   do  Trabalho. Conta com 782 membros, sendo 48
        a maior parte dos ministros já se manifestou de modo   subprocuradores-gerais do  Trabalho, que atuam junto
        contrário ao reconhecimento de vínculo.                ao TST, 142 procuradores regionais, que atuam nos TRTs,
           Apesar do retrospecto favorável às empresas pela    e 592 procuradores do Trabalho, que atuam nas varas e
        maior parte dos ministros que já se manifestaram, o caso   cuidam da atividade extrajudicial.

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