Para sindicalistas, iniciativa do ministro da Previdência amplia foco das negociações com o governo.
A ideia de substituir o fator previdenciário por uma fórmula que combine o tempo de contribuição com a idade, defendida pelo ministro da Previdência Social, Carlos Gabas, em entrevista ontem ao Estado, foi recebida com entusiasmo pelas centrais sindicais, mas com cautela por parlamentares do PT. Um líder petista disse ser “prematura” a discussão, ainda ainda que seja “salutar” o fim do fator previdenciário, criado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Com objetivo de retardar a idade média de aposentadoria, que está em 54 anos, segundo Gabas, a ideia é permitir as mulheres aposentar-se quando a soma da idade e do tempo de contribuição chegar a 85 anos.
Para os homens, a conta seria 95 anos. A proposta do ministro deve ser debatida no governo Dilma Rousset após aprovação do pacote de aperto fiscal nos benefícios trabalhistas e previdenciários. Gabas reafirmou ontem que “esta fórmula é um início de discussão, mas este ainda não é o momento. Esta é a minha opinião, como ministro”.
Para dirigentes sindicais, a ideia de substituir o fator previdenciário pelo “85/95” é boa. O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, afirmou: “Nós defendemos essa proposta do ministro. Para nós, ela é muito melhor para o trabalhador brasileiro do que a situação atual”. O presidente da Central Única do Trabalhadores, Vagner Freitas, disse que “foi uma excelente iniciativa” do ministro para se retomar a discussão do que ele considera um mecanismo que tirou direito dos trabalhadores.
“A entrevista deixa claro que, na opinião do governo, é possível que a gente estabeleça um novo debate em torno do tema”, afirmou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
A proposta de Gabas, disse, seria um ponto de partida. “É um marco importante. Antes, o governo colocava um muro de concreto nesse tema e agora o ministro, que é uma autoridade, dá a partida para que o debate volte a mesa”. Para Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores, o tema até pode ser tratado na reunião de amanhã com o governo, desde que o foco seja debater as MPs que apertam a concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas, em discussão no Congresso. “Não podemos desfocar, porque senão as MPs entrarão em vigor”.
Economistas elogiaram o objetivo de retardar a idade média de aposentadoria no Brasil, que é muito abaixo de países desenvolvidos. Na França e Alemanha, a idade média é superior a 65 anos, para mulheres, e 70 anos, para homens. Na maior parte da Europa, há idade mínima para se aposentar.
Fonte: JORNAL O ESTADO DE S. PAULO – 24.02.2015 – PÁG B3